Saturno versus Júpiter: Polaridades Culturais na História da Arte Ocidental
# Saturno versus Júpiter: Polaridades Culturais na História da Arte Ocidental
## Introdução Desde a Antiguidade, estudiosos e artistas observaram oscilações
entre tendências estéticas opostas ao longo da história da arte ocidental.
Periodicamente, a cultura parece pender ora para estilos **“saturninos”**, de
caráter clássico, formal e realista, ora para estilos **“jupiterianos”**, de
caráter expansivo, emotivo e inovador. Inspirada por princípios da **astrologia
cultural**, esta pesquisa explora a hipótese de uma *polaridade cultural*
associada aos símbolos planetários de **Saturno** e **Júpiter** na evolução da
arte, literatura e música ocidentais. Em termos astrológicos, Saturno representa
restrição, tradição e realismo, enquanto Júpiter representa expansão, otimismo e
criatividade. **Saturno** é “a voz da razão”, ligada à disciplina, estrutura e
experiência adquirida, simbolizando paciência e respeito pelos limites e pela
tradição. **Júpiter**, em contraste, simboliza a expansão, a confiança e o
progresso abundante, estando associado ao otimismo, à abundância e ao desejo de
crescer além das fronteiras existentes. No domínio das artes, podemos traçar um
paralelo entre essas qualidades astrológicas e os grandes movimentos estéticos.
Conforme propôs o historiador de arte Giulio Carlo Argan, a cultura artística
ocidental moderna se organiza dialeticamente em torno de dois polos conceituais:
o **clássico** e o **romântico**. Argan define o *clássico* como a vertente
ligada à arte greco-romana antiga e ao seu renascimento humanista nos séculos
XV-XVI (Renascimento), enquanto o *romântico* liga-se à arte cristã medieval
(especialmente Românico e Gótico) e, por extensão, a todas as correntes
estéticas que enfatizam emoção e subjetividade em detrimento dos cânones
clássicos. Essa formulação sugere um **padrão cíclico** na história: períodos de
retorno à ordem clássica (saturninos) se alternam com períodos de revolta
emotiva e expansiva (jupiterianos). O objetivo deste artigo é analisar
comparativamente, **através dos séculos**, os principais **movimentos artísticos
ocidentais** – especialmente na pintura, música e literatura – dentro desse
esquema de polaridades Saturno–Júpiter. Para cada período ou movimento, são
apresentadas suas características-chave, palavras-chave associadas ao arquétipo
saturnino ou jupiteriano, os artistas e obras mais representativos, bem como
suas datas aproximadas de início e término. Busca-se evidenciar como os estilos
ditos “saturninos” (clássicos, racionais, realistas) alternaram-se
historicamente com estilos “jupiterianos” (barrocos, românticos, modernos) em um
diálogo cultural contínuo. A estrutura do texto segue a cronologia, indo da
**Antiguidade Clássica grega** até a **arte contemporânea pós-moderna**,
mostrando em cada capítulo esse jogo de opostos complementares. Por fim,
apresenta-se uma conclusão e uma bibliografia final nos moldes acadêmicos
(ABNT). ## Saturno e Júpiter: simbolismo astrológico e analogias culturais
Antes de adentrar na análise histórica, convém esclarecer brevemente o
**simbolismo astrológico** de Saturno e Júpiter e por que eles podem servir como
metáforas úteis em história da arte. Na astrologia tradicional, Júpiter e
Saturno são vistos como planetas sociais, associados a tendências coletivas e
culturais. **Júpiter**, conhecido como o *Grande Benéfico*, representa
princípios de **expansão, confiança e otimismo**, governa conceitos como a fé, a
filosofia, a abundância e a busca por crescimento. É associado à legalidade, à
ordem social estabelecida e à generosidade, mas também à **criatividade
exuberante**, ao **entusiasmo** e à ampliação de horizontes. **Saturno**, por
sua vez, é tradicionalmente o *Grande Maléfico* ou Senhor do Tempo,
representando **limites, responsabilidade e tradição**. Saturno simboliza a
estrutura, a disciplina, a paciência e a sobriedade adquiridas com a
experiência; está ligado a figuras de autoridade e à cautela diante do novo. Em
resumo, **Saturno freia e estrutura; Júpiter expande e estimula**. Transpondo
essas ideias para a cultura, é possível pensar em **períodos “saturninos”** como
aqueles em que prevalece a valorização da *ordem, da razão e dos modelos
tradicionais*, enquanto os **períodos “jupiterianos”** enfatizariam a *inovação,
a liberdade expressiva, a emoção e a ruptura com os padrões anteriores*. Essa
dualidade ecoa outras dicotomias famosas na estética, como **“clássico vs.
romântico”**, **“Apolíneo vs. Dionisíaco”** ou **“Academicismo vs. Vanguarda”**,
mas aqui adotamos especificamente a terminologia astrológica Saturno–Júpiter
para sublinhar a ideia de um *ciclo pendular*. Como veremos, diversos
historiadores já notaram que a história da arte ocidental alterna fases de
retorno ao **formalismo clássico** e fases de explosão **expressiva e
experimental**. Essa alternância não é perfeitamente rígida – muitas vezes
elementos clássicos e românticos convivem – porém, a cada era é possível
identificar uma inclinação predominante. Nos próximos tópicos, analisaremos
sucessivamente esses movimentos pendulares através dos séculos. ## Antiguidade
Clássica (Saturno) e Período Helenístico (Júpiter)
A civilização grega antiga legou à posteridade os fundamentos do **classicismo**
artístico. No período **Clássico** de Atenas (c. 480–323 a.C.), as artes
buscaram a *harmonia, a medida e a idealização da forma humana*. Escultores como
**Fídias** e **Policleto** estabeleceram cânones de proporção e serenidade
formal; suas estátuas de deuses e heróis exibiam expressões comedidas e anatomia
perfeita, encarnando o ideal racional de beleza. A arquitetura dos templos
gregos, como o Partenon (século V a.C.), caracterizou-se pela simetria e
equilíbrio de proporções, refletindo um espírito saturnino de ordem e
permanência. Na literatura, os dramaturgos gregos do século V a.C. (Sófocles,
Eurípides) escreveram tragédias de estrutura formal rigorosa, impregnadas de
destino e moral – outro traço alinhado à gravidade de Saturno. A própria
filosofia grega – Platão, Aristóteles – exaltou a razão e a busca de leis
universais, valores caros ao arquétipo de Saturno. Em suma, na **Arte Clássica
grega** predominaram o *racionalismo, o equilíbrio e a mímesis idealizada da
realidade*, estabelecendo modelos que seriam revividos séculos depois. Porém,
após Alexandre Magno (século IV a.C.), o mundo grego ingressou no período
**Helenístico** (c. 323–30 a.C.), no qual as artes tomaram um rumo diferente e
mais “jupiteriano”. A escultura helenística, exemplificada pelo famoso
**Laocoonte** ou pela **Vitória de Samotrácia**, buscou **captar movimento,
emoção e drama**, rompendo com a serenidade clássica. As figuras tornam-se mais
**dinâmicas, expressivas e realistas**, por vezes retratando idosos, crianças ou
cenas carregadas de paixão e sofrimento – temas antes evitados. Historiadores da
arte veem esse florescimento helenístico como uma espécie de "*barroco da
antiguidade*", dado seu **exuberante pathos** em contraste com a contenção
clássica. De fato, no Helenismo a emoção prevalece sobre a razão, numa “arte de
emoções” que prefigurou muito do que séculos mais tarde seria o Barroco. Na
literatura helenística, poetas como **Teócrito** desenvolveram a poesia bucólica
idílica, de tom sentimental e intimista, enquanto romances gregos primitivos
exploraram aventuras e amores – rompendo com o tom épico e heróico do período
clássico. Também na filosofia surgiram correntes mais orientadas à experiência
humana (estoicismo, epicurismo) em vez da abstração ideal. Assim, se a Atenas
clássica pode ser vista como uma era saturnina de proporção e razão, a
**Alexandria helenística** foi uma era jupiteriana de **inventividade,
cosmopolitismo e expressão desinibida**. É marcante que já na Antiguidade se
revele esse vaivém: a ordem clássica cede lugar a uma fase posterior de
**ampliação dos horizontes estéticos e emotivos**. ## Idade Média Cristã
(Júpiter) versus Renascimento Clássico (Saturno)
Com a queda do Império Romano (séc. V d.C.), a cultura europeia migrou do ideal
clássico pagão para a cosmovisão cristã medieval. Durante a **Idade Média**
(séculos V–XV), especialmente na Alta Idade Média, a produção artística
afastou-se deliberadamente dos modelos greco-romanos, assumindo características
peculiares que podemos associar ao arquétipo jupiteriano. A arte medieval –
fortemente didática e religiosa – privilegiou a **espiritualidade, a emoção
devocional e o misticismo** em vez do naturalismo clássico. Nas igrejas
românicas (séc. XI–XII), por exemplo, encontramos figuras esculpidas hieráticas
e simbólicas, proporcionadas não pela óptica realista mas pela importância
teológica. Já o estilo **Gótico** (séc. XII–XIV) levou a arquitetura a alturas
vertiginosas: catedrais como Notre-Dame elevaram arcos ogivais e vitrais
coloridos que inundavam os interiores de luz multicolorida, criando uma
atmosfera etérea e transcendental. Essa estética gótica, com suas **decorações
exuberantes, verticalidade ousada e expressão do sentimento religioso**,
representa um claro afastamento do equilíbrio clássico – um mundo onde a **fé e
a emoção coletiva** dominavam. De fato, Argan qualificou a arte medieval cristã
(românica e gótica) como pertencente à vertente “romântica” da cultura, em
oposição à tradição clássica antiga. Na música medieval, o contraste é
semelhante: o **canto gregoriano** (saturnino em sua austeridade talvez) cedeu
lugar, no final do período, a elaboradas polifonias góticas, como os motetos de
Pérotin em Notre-Dame, cheias de entrelaçamentos melódicos que elevavam o
espírito. Na literatura medieval, as **poesias trovadorescas** (séc. XII)
cantavam o amor cortês de forma lírica e emotiva, enquanto as grandes epopéias e
romances de cavalaria – *A Canção de Rolando*, os **ciclos arturianos** –
exaltavam ideais idealizados de fé e honra, povoando a imaginação com milagres e
fantasias. Em síntese, a Idade Média apresenta um caráter **teocêntrico e
emotivo**, onde a **imaginação e a fé** (“Júpiter”) suplantaram a razão e a
referência clássica. Ainda que a arte medieval tivesse suas regras estritas
(muito definidas pela Igreja, como a iconografia rígida da arte bizantina, por
exemplo), do ponto de vista estilístico ela se afastou das proporções humanas
naturais – valorizando o **espiritual sobre o material** – o que a coloca no
lado oposto ao classicismo greco-romano.
Por volta do século XV, entretanto, ocorre na Itália um poderoso movimento de
**retorno aos ideais clássicos**: o **Renascimento**. Este período (aprox.
1400–1600) representa um genuíno momento saturnino de recuperação consciente da
ordem e dos valores da Antiguidade. Os artistas renascentistas buscaram reviver
a harmonia e a racionalidade greco-romanas, combinando-as com novas técnicas.
Pintores e escultores como **Leonardo da Vinci**, **Michelangelo** e **Rafael**
estudaram profundamente a anatomia e a perspectiva para retratar a figura humana
de forma *naturalista e ideal*. O Renascimento foi marcado pela **valorização do
homem (humanismo) e pela racionalidade**, em contraste com o teocentrismo
medieval. Desenvolveu-se a perspectiva linear na pintura (desde Brunelleschi e
Masaccio), conferindo **realismo espacial** às obras, e as composições buscavam
simetria e equilíbrio reminiscentes da arte clássica. Como define Argan, foi o
“renascimento na cultura humanista” da estética antiga. Uma citação da
enciclopédia Wikipédia resume bem: *“Enquanto no Renascimento o tratamento das
temáticas enfatizava qualidades de moderação, economia formal, austeridade,
equilíbrio e harmonia...”*. De fato, obras-primas renascentistas como *O
Nascimento de Vênus* de Botticelli (1485) ou *A Escola de Atenas* de Rafael
(1511) exibem idealização clássica e ordem composicional. Na arquitetura,
templos e palácios renascentistas (por ex., de Brunelleschi ou Palladio)
retomaram colunas e frontões clássicos, aplicando proporção matemática aos
espaços. Na música, o alto Renascimento (Palestrina, séc. XVI) perseguiu uma
*polifonia equilibrada e clara*, “moderada” em dissonâncias, almejando um ideal
de harmonia celestial regrado – correspondendo ao Saturno da disciplina.
Assim, o **Renascimento** pode ser visto como uma reação saturnina à
extravagância gótica precedente – um *resgate consciente da sobriedade e do
racionalismo antigos*. Não por acaso, os próprios renascentistas depreciavam a
Idade Média (que chamavam de “idades das trevas”) por considerá-la bárbara e
inculta, e se espelhavam diretamente nos modelos greco-romanos. Foi um período
de otimismo na capacidade humana e de **respeito à tradição clássica**, embora
inovando em ciência e técnica. Em suma, o pêndulo retornou: após séculos de
predomínio espiritualista e emotivo (Júpiter medieval), o mundo ocidental
experimentou um renascer da estrutura, da razão e da forma perfeita (Saturno
renascentista). ## Barroco (Júpiter) e Classicismo Acadêmico / Neoclassicismo
(Saturno)
No final do século XVI, um novo giro ocorre. O **Barroco**, estilo que domina o
século XVII (aprox. 1580–1720), nasce inicialmente na Itália e logo se espalha
pela Europa católica, representando um vigoroso impulso **anti-renascentista**
em termos de linguagem artística. Se o Alto Renascimento buscara moderação e
equilíbrio, o **Barroco** deleita-se no **excesso, no dinamismo e na paixão**.
Conforme define a historiografia, o Barroco é *“o estilo artístico que floresceu
entre o final do século XVI e meados do século XVIII (...). Enquanto no
Renascimento enfatizava-se a moderação, austeridade e harmonia, o tratamento
barroco dos mesmos temas mostrava maior dinamismo, contrastes mais fortes,
dramaticidade, exuberância e realismo decorativo”*. Ou seja, o Barroco assumiu
deliberadamente uma estética **emocional e contrastante**, ampliando os limites
expressivos – traços claramente associados a Júpiter. Diversos fatores culturais
contribuíram para o surgimento desse “espírito barroco”: a **Contrarreforma
católica** estimulou uma arte mais emotiva e teatral para reconquistar fiéis; o
**absolutismo monárquico** apreciava o esplendor ornamental como símbolo de
poder; e uma nova sensibilidade, influenciada pelo maneirismo tardio, buscava
expressar as inquietações e êxtases da alma. O resultado foram obras de arte que
frequentemente combinam *grandiosidade e exuberância material com fervor
espiritual*. Na pintura barroca, **Caravaggio** introduz o chiaroscuro dramático
e figuras intensamente realistas que “saltam” da penumbra, provocando forte
impacto emocional. **Peter Paul Rubens**, por sua vez, enche suas telas de
movimento serpentino e sensualidade exuberante. Na escultura e arquitetura,
**Gian Lorenzo Bernini** encarna o barroco italiano: seu *Êxtase de Santa
Teresa* (1652) em Roma mostra a santa em arrebatamento místico, esculpida com
tal dramatismo nas vestes e expressões que a pedra parece viva; enquanto na
arquitetura, Bernini projetou colunas curvilíneas e espaços teatrais (como a
colunata da Praça de São Pedro) envolvendo o observador. A música barroca (c.
1600–1750) igualmente enfatiza a emoção: compositores como **J. S. Bach**,
**Händel** e **Vivaldi** criaram peças de intricada ornamentação e contrastes
expressivos (da solenidade de um coral às passagens virtuosísticas de um
concerto), buscando *“afetar os afetos”* do ouvinte. Em suma, em todas as artes
o Barroco privilegiou a **paixão, a complexidade e a exuberância** – podemos
dizer, privilegiou **a emoção sobre a razão**. Como bem colocou o escritor
brasileiro *Silas Massini*: *“O Barroco floresceu no século XVII em contradição
aos ideais renascentistas ausentes de emotividade e paixão. Se o Renascimento
fosse um soneto, o Barroco seria a prosa, a transformação de Apolo em ideais
dionisíacos. O Barroco é a arte da paixão, do desejo e do sentimento
espontâneo...”*. Essa citação ilustra claramente a polaridade: Apolo (deus solar
da razão, análogo a Saturno) cede lugar a Dioniso (deus do êxtase, análogo a
Júpiter) no século barroco. Não à toa, muitos autores consideram que o *Barroco
não foi apenas um estilo*, mas *“todo um movimento sociocultural, formulando
novos modos de entender o mundo, o homem e Deus”* – uma verdadeira mudança de
paradigma em relação ao ideal clássico.
Entretanto, por volta de meados do século XVIII, observa-se nova inflexão em
sentido contrário. A partir do **Iluminismo** e do **Neoclassicismo**, há um
ressurgimento de tendências saturninas, buscando novamente a sobriedade e a
razão. Ainda no final do Barroco, alguns artistas já apontavam para uma retomada
da ordem: por exemplo, o estilo **Acadêmico francês** sob Luís XIV, embora
decorativo, trouxe certa formalidade clássica (a chamada *“Arte Clássica”*
francesa do século XVII, de **Poussin** e das tragédias de **Racine**,
contrastava com o barroquismo latino). Mas a reação mais concreta veio após 1750
com o **Neoclassicismo** – movimento artístico e literário que dominou aprox.
1770–1820. Influenciados pelas escavações de Pompéia e pelo racionalismo
iluminista, artistas neoclássicos propuseram um retorno consciente às formas
greco-romanas, pregando *simplicidade, simetria e virtude moral* na arte.
**Jacques-Louis David**, principal pintor neoclássico, por exemplo, em obras
como *O Juramento dos Horácios* (1784), apresenta figuras delineadas com
contornos nítidos, composição equilibrada e temática de dever cívico, em direta
oposição ao excesso ornamental rococó e barroco que o precedeu. Nos salões e
academias europeias, instituiu-se o **formalismo e racionalismo** como critérios
estéticos, valorizando o desenho correto, a imitação dos modelos clássicos e a
“boa ordem” na pintura e na escultura. Na arquitetura, **Antonio Canova** e
outros retomam a pureza das estátuas clássicas em mármore branco, e edifícios
públicos imitam templos romanos (p. ex. o Panteão de Paris, 1790). Na
literatura, o final do séc. XVIII viu florescer o **Arcadismo** (ou
Neoclassicismo literário) – poetas como **Cláudio Manuel da Costa** e **Bocage**
em língua portuguesa, ou **Pope** e **Samuel Johnson** na inglesa, defenderam o
retorno à *“simples pureza antiga”*, usando linguagem contida, versos heroicos
regulares e temas pastoris e greco-romanos, contra os “excessos emocionais” que
começavam a surgir. A ópera clássica de **Gluck** e o estilo galante na música
também buscavam linhas claras e equilíbrio. E sobretudo, na música, temos a
chamada **Era Clássica** vienense: **Haydn, Mozart e o jovem Beethoven** (c.
1760–1800) compõem sinfonias e quartetos obedecendo formas fixas (sonata, rondó)
e proporções sonoras balanceadas, numa verdadeira tradução sonora do ideal
iluminista de ordem. Desse modo, **Neoclassicismo e Iluminismo** formaram um
poderoso bloco saturnino no fim do século XVIII: uma arte guiada pela *razão,
pelo didatismo moral e pela retomada disciplinada do passado clássico*. O
Barroco e seu epílogo Rococó (este mais frívolo e decorativo ainda, na primeira
metade do séc. XVIII) foram criticados pelos iluministas como *degenerações do
bom gosto*. O filósofo Winckelmann, teórico do neoclassicismo, advogava que a
única maneira de ser grande e, se possível, inimitável, era imitar os antigos.
Essa pedagogia clássica dominou academias de arte e impregnou a mentalidade
europeia às vésperas do século XIX. Em termos astrológicos simbólicos,
**Saturno** (a tradição, a estrutura) recuperava sua coroa após o reinado
exuberante de **Júpiter** no Barroco. ## Romantismo (Júpiter) e
Realismo/Naturalismo (Saturno)
No final do século XVIII e início do XIX, porém, uma nova onda revolucionária –
tanto artística quanto política – varreu a Europa: o **Romantismo**. Surgido
gradualmente a partir do Sturm und Drang alemão (década de 1770) e consolidado
no primeiro terço do século XIX (c. 1800–1850), o **Romantismo** foi
essencialmente uma explosão de subjetividade, imaginação e liberdade individual
– atributos claramente **jupiterianos**. O romantismo, definem os historiadores,
*“foi um movimento artístico e intelectual originado no final do séc. XVIII,
atingindo o auge entre 1800 e 1850, caracterizado pela ênfase na emoção e no
individualismo, pela glorificação do passado e da natureza, preferindo o
medieval ao clássico”*. Ou seja, os românticos deliberadamente *rejeitaram o
racionalismo* iluminista e o culto aos modelos greco-romanos, buscando
inspiração em fontes alternativas: a era medieval, as lendas populares, o
exótico, o sobrenatural e, acima de tudo, a expressão sincera dos sentimentos
pessoais. Em contraste ao “equilíbrio clássico” (Saturno) do Neoclassicismo, **o
Romantismo exaltou a paixão, a fantasia, o mistério e o eu interior** (Júpiter).
Nas artes plásticas, os românticos empregaram cores vibrantes, pinceladas soltas
e composições turbulentas. O pintor francês **Eugène Delacroix**, por exemplo,
em *A Liberdade Guiando o Povo* (1830) ou *A Morte de Sardanápalo* (1827), rompe
com a linearidade clássica de David, lançando mão de um caos organizado de
figuras, muita cor e emoção patriótica ou orientalizante. O inglês **J. M. W.
Turner** dissolve formas em luz e movimento, para transmitir o sublime da
natureza e das tempestades – a pequena figura humana perante a imensidão (tema
caro aos românticos). Na literatura, o Romantismo produziu poetas e novelistas
celebrando desde o amor exacerbado até o terror gótico e o nacionalismo
folclórico. **Goethe**, em seu *Os Sofrimentos do Jovem Werther* (1774),
inaugurou a voz do “eu” lírico emotivo, inspirando gerações de “espíritos
românticos” pela Europa. **Lord Byron**, **Shelley** e **Keats** na Inglaterra;
**Victor Hugo** e **Chateaubriand** na França; **Almeida Garrett** e **Byron**
(influência indireta) em Portugal; **Álvares de Azevedo** e outros no Brasil –
todos exploraram temas de paixão, natureza indomada, heróis libertários ou
melancólicos, ruínas medievais e espiritualidade mística. O tom predominante era
a **rebeldia contra convenções** e a **valorização do sentimento sobre a
razão**. “**Tristeza**, **saudade**, **imaginação**, **liberdade**” tornaram-se
palavras-chave. Na música, o período romântico (c. 1820–1900) levou a linguagem
tonal a novos extremos de expressividade: **Beethoven**, transição do clássico
para o romântico, infundiu suas sinfonias de drama subjetivo; **Chopin** compôs
peças para piano de intensa poesia interior; **Wagner** revolucionou a ópera com
cromatismo e mitologia teutônica grandiosa; **Verdi** imprimiu paixão e voz aos
sentimentos patrióticos e amorosos no palco operístico. As formas musicais
ficaram mais livres (poemas sinfônicos, rapsódias) ou, quando mantidas, serviam
a propósitos expressivos inéditos (a sinfonia *Fantástica* de Berlioz, 1830, por
exemplo, é uma alucinação sentimental narrada musicalmente).
Em síntese, o **Romantismo foi a reafirmação do arquétipo de Júpiter**:
expansivo, aventureiro, fervoroso e muitas vezes rompendo limites. Ele
representou uma “tradição da ruptura”, para usar a expressão de Octavio Paz,
pois a modernidade romântica define-se pela negação das regras clássicas em
favor do *novo, do diverso, do subjetivo*. Entretanto, como todo movimento leva
consigo o germe de uma reação, **a segunda metade do século XIX assistiu ao
florescimento de uma contra-corrente realista**, que podemos associar a Saturno.
Por volta de 1850, já saturados pelos excessos do romantismo (que às vezes
resvalavam em fantasia escapista), diversos artistas na Europa passaram a
valorizar a **observação objetiva da realidade cotidiana** e a abordagem sóbria
dos fatos sociais. Nascia o **Realismo**, primeiro na França, declaradamente “em
reação ao romantismo”. Conforme sintetiza a definição enciclopédica: *“O
Realismo foi um movimento artístico e literário surgido nas últimas décadas do
século XIX na França, em reação ao romantismo. Baseava-se na representação
**objetiva da realidade**, rejeitando o sentimentalismo e o subjetivismo”*. De
fato, os realistas buscavam retratar *a vida como ela é*, sem idealizações
heroicas ou emotivas, muitas vezes com intenção de crítica social.
Na pintura, **Gustave Courbet** liderou o movimento realista com telas como *Os
Quebradores de Pedras* (1849) e *Um Enterro em Ornans* (1850), que chocaram o
público ao colocar camponeses anônimos e cenas banais em tamanho monumental, sem
embelezamento – “repudiando a artificialidade” tanto do neoclassicismo quanto do
romantismo anteriores. Também **Jean-François Millet** pintou a dura vida rural
(*As Respigadoras*, 1857) com dignidade, porém sem romantização. Na literatura,
surgem os grandes romances realistas e naturalistas: **Honoré de Balzac** já
havia iniciado uma descrição extensa dos tipos sociais franceses; **Gustave
Flaubert** publica *Madame Bovary* (1857), notável pela impassibilidade
narrativa e dissecação psicológica sem julgamentos morais sentimentais; **Émile
Zola** leva adiante com o Naturalismo (1870s) explorando determinismo social e
científico nos romances. Na Inglaterra, **Charles Dickens**, embora com coração
compassivo, retrata cruamente a sociedade industrial; na Rússia, **Tolstói** e
**Dostoiévski** (este com traços psicológicos complexos, mas ambos atentos à
realidade social e moral de seu tempo). A tônica é **anti-heroica, objetiva e
crítica**, focando muitas vezes nas classes médias e baixas e seus problemas
concretos. Em música erudita, não houve exatamente um “realismo musical” como
escola, mas podemos citar o movimento **verista** na ópera italiana (final do
séc. XIX) – com compositores como **Mascagni**, **Leoncavallo** e algumas obras
de **Puccini** – que colocaram no palco histórias de gente comum (camponeses,
boêmios) e tragédias passionais sem final feliz, em linguagem direta. Esse
*verismo* operístico foi análogo ao naturalismo literário, rejeitando os enredos
mitológicos ou nobres do romantismo anterior, em favor de uma emoção mais crua e
cotidiana. Assim, o **Realismo/Naturalismo** do período 1850–1890
aproximadamente funcionou como correção saturnina ao romantismo jupiteriano:
trouxe de volta o **pragmatismo, a análise racional da sociedade, o
comprometimento com a verdade factual**. Muitos realistas se apoiaram em
filosofias científicas emergentes (o positivismo, por exemplo, comteano,
influenciou Zola e outros). As cores extravagantes e os cenários exóticos do
romantismo deram lugar à paleta sóbria das fazendas de Millet ou dos cortiços de
Dickens. Em lugar da subjetividade do *eu*, o realismo preferiu a *terceira
pessoa onisciente*, descrevendo o mundo externo de modo quase documental.
Pode-se dizer que, mais uma vez, Saturno (realidade, responsabilidade) veio
cobrar seu pedágio após o longo banquete de Júpiter (idealismo romântico).
É interessante notar, contudo, que mesmo dentro do período predominantemente
realista, havia contracorrentes jupiterianas: na poesia, por exemplo, emergiu o
**Simbolismo** (a partir de 1880), pleno de misticismo, musicalidade e
imaginação, representado por **Baudelaire**, **Verlaine**, **Rimbaud** – o que
mostra que as polaridades podiam coexistir e alternar-se em ciclos curtos
também. De fato, Baudelaire, contemporâneo de Flaubert, já reintroduzia o culto
da subjetividade e do feérico poético (*As Flores do Mal*, 1857) em plena era
realista. Pouco depois, na pintura, o **Impressionismo** (década de 1870–80)
desafiou o academicismo realista com sua ênfase na impressão subjetiva da luz e
da cor – movimento liderado por **Claude Monet** e **Renoir**, que apesar de
retratar cenas reais do cotidiano, o faziam de forma sensorial e fugidia, não
“objetiva” no sentido estrito. São indícios de que o pêndulo começava a oscilar
novamente para o lado jupiteriano conforme o século XIX aproximava-se do fim. ##
Vanguardas Modernistas (Júpiter) e Retornos ao Clássico no século XX (Saturno)
No alvorecer do século XX, as artes ocidentais entraram em um período de
efervescente experimentação e ruptura – a era das **Vanguardas Modernistas**
(aprox. 1900–1940). Esse foi, sem dúvida, um ciclo fortemente **jupiteriano**,
caracterizado por uma explosão de formas inovadoras, rejeição das convenções
acadêmicas e busca incessante pelo novo. A chamada arte “moderna” trouxe à cena
movimentos sucessivos que quebraram paradigmas estéticos de forma radical. Por
exemplo, o **Expressionismo** (c. 1905–1920) distorceu cores e figuras para
expressar angústias subjetivas (pense nas figuras contorcidas de **Edvard
Munch** em *O Grito*, 1893, ou na arte do Die Brücke alemão); o **Cubismo** (c.
1907–1914), liderado por **Pablo Picasso** e **Georges Braque**, desmontou a
forma e o espaço em facetas geométricas, desafiando a perspectiva clássica em
nome de uma visão múltipla e intelectualizada da realidade; o **Futurismo**
italiano (1909–1915) glorificou velocidade, máquinas e choque, rompendo com
qualquer nostalgia do passado; o **Dadaísmo** (c. 1916–1922) e o **Surrealismo**
(a partir de 1924) subverteram por completo a lógica e a razão na arte,
abraçando o absurdo e o inconsciente (como nas obras oníricas de **Salvador
Dalí** ou nos poemas automáticos de **André Breton**). Em todas essas
vanguardas, nota-se o repúdio pelos estilos tradicionais e uma fé quase utópica
na *originalidade* – em sintonia com a natureza expansiva e exploratória de
Júpiter. **Palavras-chave** do modernismo incluem *inovação, liberdade formal,
ruptura, antiacademismo, utopia*. De fato, por volta de 1910, o pintor acadêmico
**Bouguereau** ou os músicos românticos tardios eram vistos pelas novas gerações
como símbolos de um passado “esgotado”, a ser superado por completo. Na
literatura, o **Modernismo** produziu obras revolucionárias na forma e conteúdo:
**James Joyce** em *Ulisses* (1922) desmonta a narrativa linear em fluxos de
consciência caleidoscópicos; **T. S. Eliot** em *A Terra Desolada* (1922)
fragmenta a estrutura poética para refletir a crise espiritual moderna; no
Brasil, a *Semana de Arte Moderna* (1922) proclama a independência estética e
linguística do academicismo parnasiano. Tudo isso aponta para um ciclo
marcadamente jupiteriano de **quebra de limites e expansão de horizontes
estéticos**.
Entretanto, mesmo no auge dessas vanguardas, houve momentos de **retorno à
ordem** – manifestações saturninas que tentavam recuperar algum equilíbrio
clássico dentro da modernidade. Após o choque cultural da Primeira Guerra
Mundial (1914–18), muitos artistas sentiram necessidade de retomar certos
valores de clareza e estabilidade. Os anos 1920 viram, por exemplo, o movimento
do *“Retorno à Ordem”* na França: pintores como **Picasso** (que nos anos 20
adotou temporariamente um estilo neoclássico em certos trabalhos) e **Braque**,
após o cubismo analítico austero, incorporaram figuras mais sólidas e temas
tradicionais; na Itália, surgiu a **Pittura Metafisica** de **Giorgio de
Chirico**, com ambientes clássicos vazios que resgatavam a memória da
Antiguidade, e posteriormente o **Novecento Italiano**, grupo que pregava um
neoclassicismo alinhado ao nacionalismo. Na música erudita, o compositor russo
**Igor Stravinsky**, expoente do radicalismo rítmico de *A Sagração da
Primavera* (1913), surpreendeu ao adotar a fase **Neoclássica** (1920–50),
compondo obras inspiradas em Mozart e Bach (por exemplo, a suíte *Pulcinella*,
1920, baseada em Pergolesi). Foi um claro **gesto saturnino** de revalorização
da forma tradicional em meio ao caos pós-guerra. Arquitetos modernistas como
**Le Corbusier** mantiveram um espírito saturnino no sentido de buscarem *ordem
funcional e racionalidade* (a máxima “a casa é uma máquina de morar” reflete bem
a busca de eficiência e clareza), ainda que rejeitando ornamentos clássicos – ou
seja, Saturno aqui se manifesta na ênfase na estrutura e utilidade. Por outro
lado, arquitetos **pós-modernistas** das décadas de 1970–80 (como **Philip
Johnson** ou **Robert Venturi**) reagiriam à austeridade modernista
reintroduzindo citações históricas e elementos lúdicos nas construções, num
movimento expansivo jupiteriano de ironia e pluralismo estilístico.
No campo das artes visuais após a Segunda Guerra (1945), o pêndulo continuou
suas oscilações: o **Expressionismo Abstrato** dos anos 1950 (Jackson Pollock,
Willem de Kooning) foi um momento de máxima liberdade gestual e emocional – um
jorro jupiteriano de subjetividade na pintura. Em seguida, nos anos 1960, surgiu
o **Minimalismo**, reduzindo a arte às formas geométricas simples e repetição,
eliminando expressão pessoal – claramente um impulso saturnino de depuração e
controle (ex.: esculturas moduladas de **Donald Judd** ou música minimalista de
**Philip Glass** com estruturas repetitivas rigorosas). Logo depois, no final
dos 70 e 80, veio a **Transvanguarda** e o **Neoexpressionismo** (Basquiat,
Anselm Kiefer etc.), recolocando narrativa, cor e emoção forte na pintura – de
novo um giro jupiteriano. A literatura pós-moderna (de *O Jogo da Amarelinha* de
Cortázar a *O Nome da Rosa* de Eco) misturou alta e baixa cultura, fragmentou e
ironizou os gêneros – um “excesso” criativo deliberado, também de caráter
jupiteriano no sentido de romper fronteiras de linguagem. Ao mesmo tempo,
correntes literárias minimalistas ou realistas voltaram nos anos 1980–90, como
certas obras de *Raymond Carver* ou do movimento “dirty realism” nos EUA,
revalorizando a contenção e o ordinário (traços saturninos).
Nos **tempos contemporâneos** (fim do século XX e início do XXI), a arte
tornou-se extremamente plural, convivendo múltiplas tendências simultaneamente.
Pode-se argumentar que o próprio conceito pós-moderno é uma espécie de síntese
que mistura ambos os polos: ora com atitude lúdica e caótica (Júpiter), ora com
citação erudita e crítica racional (Saturno). Em artes visuais, por exemplo, a
**arte conceitual** e a **performance art** (décadas de 1960–70) enfatizaram a
ideia sobre a forma, muitas vezes com tom cerebral e crítico (um viés
saturnino-intelectual), enquanto outras manifestações contemporâneas como
instalações imersivas, arte digital interativa ou revival de técnicas
tradicionais em novos contextos podem carregar tanto exuberância criativa quanto
reflexão formal. Na música clássica contemporânea, após o auge serialista (que
era estritamente estruturado) e suas reações aleatórias (Fluxus, John Cage),
assistimos a uma reaproximação do tonal e do acessível em fins do século XX –
compositores “neo-românticos” ou minimalistas tonais trouxeram de volta certa
emotividade e consonância (um toque de Júpiter após o Saturno severo do
serialismo). Já no cinema e na cultura pop, tendências nostálgicas alternam-se
com ondas futuristas em ciclos cada vez mais rápidos. Em suma, o **século XX e
início do XXI** confirmam a dialética Saturno–Júpiter em ação contínua:
**momentos de ordem, racionalização e retomada do passado** sucedem-se a
**momentos de caos criativo, subjetividade e iconoclastia**, muitas vezes em
intervalos breves ou até coexistindo em campos diferentes. Essa alternância, que
outrora se dava ao longo de séculos (como vimos entre épocas antigas, medievais,
renascentistas, etc.), acelera-se na contemporaneidade – mas nem por isso deixa
de existir. A própria análise de Argan mencionada na introdução prevê que todos
os movimentos da arte europeia podem se alinhar a um dos dois grandes vetores: o
*clássico-saturnino* ou o *romântico-jupiterino*. ## Conclusão
Através deste percurso histórico, procuramos demonstrar a existência de um
**padrão cíclico** na cultura ocidental, análogo a uma “respiração” entre polos
opostos, que aqui associamos simbolicamente a **Saturno** e **Júpiter**. Desde a
Antiguidade clássica versus helenística, passando pela Idade Média versus
Renascimento, Barroco versus Neoclassicismo, Romantismo versus Realismo, até as
idas e vindas entre vanguardas modernas e retomadas clássicas, notamos que a
arte ora enfatiza *disciplina, equilíbrio e tradição*, ora privilegia *expansão,
emoção e ruptura*. Claro está que nem todos os períodos encaixam-se
perfeitamente em rótulos – muitas nuances poderiam ser exploradas, e
frequentemente há misturas (por exemplo, o Barroco contém tanto elementos de
continuidade clássica quanto de inovação). Contudo, a tendência geral de
**alternância** é sustentada por diversas evidências históricas e já foi
teorizada por autores importantes. A analogia astrológica serviu aqui como uma
lente poética para compreender tais fluxos: Saturno, senhor do tempo e das
estruturas, figurativamente “reina” em épocas de retorno à ordem, enquanto
Júpiter, expansivo e otimista, “governa” as eras de criatividade e
transformação. Essa perspectiva integradora entre **História da Arte** e
**Astrologia Cultural** não pretende ser determinista, mas sim oferecer um
arcabouço interpretativo para padrões culturais. Vale lembrar que, na astrologia
mundana clássica, as conjunções de Júpiter e Saturno (os “cronocratores” de
grandes ciclos de 20 anos) eram vistas como indicadoras de mudanças de época. Se
isso é apenas símbolo ou sincronicidade, não cabe aqui concluir. O fato é que a
dialética entre forças antagônicas – razão/emoção, regra/liberdade,
tradição/inovação – é inerente ao desenvolvimento da arte e do pensamento.
Conhecer o passado sob esse ângulo pode nos ajudar a entender o presente: em
momentos de excesso de caos criativo, pressente-se a busca por nova ordem; em
momentos de excesso de rigidez, clama-se por libertação. Talvez estejamos, no
momento contemporâneo, numa rara situação em que Saturno e Júpiter convivem
simultaneamente em diferentes esferas culturais, dada a globalização das
referências. Ainda assim, é provável que futuros historiadores identifiquem, com
o recuo do tempo, quais tendências (saturninas ou jupiterianas) definiram melhor
o **espírito** de nossa época.
Em conclusão, a metáfora dos “dois planetas” enriquece a análise histórica ao
lembrar que nenhuma fase criativa surge isolada: ela é muitas vezes *resposta* à
anterior e *prelúdio* da seguinte, num eterno balanço. A arte ocidental, ao que
tudo indica, orbita ciclicamente entre o amor pela forma eterna de Saturno e o
impulso visionário de Júpiter – e é desse diálogo cósmico que nasce, renovada, a
**beleza** através dos séculos. ## Referências Bibliográficas * ARGAN, Giulio
Carlo. *Clássico e romântico*. In: **Arte Moderna**. São Paulo: Companhia das
Letras, 1992. p. 11–34. (Trecho citado em sobre a relação dialética clássico vs.
romântico na cultura artística moderna). * MASSINI, Silas. *Barroco – A arte em
êxtase pela música*. *Blog Arte Clássica Eterna*, 04 set. 2015. Disponível em:
*[http://arteclassicaeterna.blogspot.com/2015/09/barroco-arte-em-extase-pela-musica.html](http://arteclassicaeterna.blogspot.com/2015/09/barroco-arte-em-extase-pela-musica.html)*.
Acesso em: 08 ago. 2025. (Texto de blog citando que Barroco exalta emoção contra
razão renascentista, e equiparando o helenismo ao “Barroco da antiguidade”). *
**Wikipédia (ed. em português)**. *Barroco*. Disponível em:
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Barroco](https://pt.wikipedia.org/wiki/Barroco)*
(seção “Contextualização”). Acesso em: 08 ago. 2025. (Definição do Barroco, sua
cronologia – final do séc. XVI a meados do XVIII – e contraste de
características em relação ao Renascimento). * **Wikipédia (ed. em português)**.
*Romantismo*. Disponível em:
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo](https://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo)*
(intro). Acesso em: 08 ago. 2025. (Definição do romantismo como movimento do
final do séc. XVIII a meados do XIX, enfatizando emoção, individualismo e
medievalismo vs. classicismo; nota de que o Realismo surgiu como reação a ele).
* **Wikipédia (ed. em português)**. *Realismo*. Disponível em:
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Realismo](https://pt.wikipedia.org/wiki/Realismo)*
(intro). Acesso em: 08 ago. 2025. (Definição do Realismo como movimento
artístico-literário das últimas décadas do séc. XIX na França, reação ao
romantismo, com representação objetiva da realidade e rejeição ao
sentimentalismo). * ESTRATÉGIA Vestibulares. *História da Arte: resumo sobre os
principais períodos artísticos*. Disponível em:
*[https://vestibulares.estrategia.com/portal/materias/artes/historia-da-arte/](https://vestibulares.estrategia.com/portal/materias/artes/historia-da-arte/)*.
Acesso em: 08 ago. 2025. (Linha do tempo geral; referência ao fato de que a arte
moderna dos séc. XIX-XX foi marcada pela liberdade criativa e ruptura com
padrões acadêmicos). * LUIS BARREIRA (Luís C. Barreira). *Arte, sublime
inutilidade* – postagem “risus paschalis”, 10 abr. 2023. Disponível em:
*[https://luisbarreira.net/art/category/ARTE](https://luisbarreira.net/art/category/ARTE)*
(citação de descrição astrológica clássica: princípios de Júpiter como
abundância, equilíbrio no progresso, e de Saturno como planeta de restrição e
provações). * VON AH, Heloísa. **Saturno no mapa astral: o Senhor do Karma**.
*WeMystic Brasil*. Disponível em:
*[https://www.wemystic.com.br/saturno-no-mapa-astral/](https://www.wemystic.com.br/saturno-no-mapa-astral/)*.
Acesso em: 08 ago. 2025. (Artigo de astrologia com explicações sobre Saturno e
contraste com Júpiter: Saturno = limitação, razão, tradição; Júpiter = expansão
e otimismo). * NANDO (Astrokabana). *Discussões sobre polaridade Saturno–Júpiter
na arte* – **Prompts de pesquisa** via ChatGPT5, 2025. (Fonte de inspiração
conceitual; comunicação pessoal). * **OpenAI**. *ChatGPT-5* (modelo GPT-4),
2025. (Assistente de inteligência artificial utilizado para pesquisa
bibliográfica e elaboração deste artigo).
Astrokabana Nando Guimarães Campinas, Sp, 2025 zody2k@aol.com = email YOUTUBE:
AstroKabana @nandoastrokabana = instagram
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